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Uso descontrolado de celulares dificulta o aprendizado na escola



Autor(a): Niomar Pereira


As tecnologias fazem parte do cotidiano das pessoas desde a infância. Crianças têm acesso a smartphones, tablets, notebooks, cinema 3D, coisas impensáveis até 20 anos atrás. A geração da década de 80, por exemplo, só teve acesso ao computador em meados dos anos 90 e, ainda assim, em equipamentos com funções muito limitadas. Qualquer celular hoje em dia tem mais recursos que os PCs da época. A situação, no entanto, se inverteu, os eletrônicos se popularizaram e o que se discute são os malefícios deste excesso de tecnologia.

Uma pesquisa realizada pela AVG Technologies no ano passado com famílias de todo o mundo - publicada no portal Sempre Família - mostrou que 66% das crianças entre 3 e 5 anos de idade conseguiam usar jogos de computador, 47% sabiam como usar um smartphone, mas apenas 14% eram capazes de amarrar os sapatos sozinhas. No caso das crianças brasileiras, o levantamento apontou que 97% entre 6 e 9 usam a internet e 54% têm perfil no Facebook. O que muitos especialistas questionam é o impacto no desenvolvimento das crianças e adolescentes, especialmente no que se refere ao aprendizado.

A psicóloga Taise Signorini, coordenadora do curso de Psicologia da Unipar, afirma que é difícil ignorar a importância da tecnologia. "Alguns autores passaram inclusive a usar o termo ´infância midiática´ para definir o que vivemos. Em se tratando do impacto, diria efeito, de tudo isso para as crianças, é importante ressaltar que a globalização tecnológica precisa se voltar a nosso favor, ou seja, todo este ´espetáculo´ veiculado hoje deve ser absorvido pela família e transmitido às crianças de uma forma razoável, para que possam, por sua vez, experimentar tudo isso sem muito estranhamento." Ela observa que as relações maternas e paternas devem ser mantidas e não podem ser substituídas pelos meios eletrônicos.

Taise reforça que os pais precisam estabelecer limites e também utilizar recursos que se aproximem de aspectos tecnológicos, otimizando o favorecimento do diálogo no processo de ensino e aprendizagem. No âmbito escolar, ela acha importante a adoção de novas estratégias em sala de aula para que a capacidade de assimilar as tecnologias pelos alunos seja explorada com eficiência. "É um recurso possível diante do que se percebe como cenário atual, ou seja, os professores devem tentar usar esses recursos como complementares e não mais como possíveis `vilões´ da educação."



Os problemas em sala de aula

Preocupado com os excessos em sala de aula, o professor e também vereador Aires Tomazzoni (PMDB) é autor de uma lei que proíbe no município o uso de celulares no ambiente escolar. Professores afirmam que é constante a troca de torpedos entre alunos dentro da sala de aula e também para amigos de outra sala. Muitos deixam o celular no modo silencioso e às vezes não resistem, quando recebem uma ligação, atendem sussurrando.

Há queixas de que muitos utilizam o telefone para jogar, já que praticamente todos os modelos trazem opções de vários games. O vereador conta que existem estudantes que usam o celular para colar nas provas, através de mensagens de texto e também armazenando a matéria no próprio aparelho. Outro problema, que tira o foco principal - o aprendizado dos alunos -, é o exibicionismo, cada dia um aluno surge com um modelo novo dotado de novas tecnologias, "o celular é considerado um objeto de status entre eles". Ademais, Aires diz que é difícil eles resistirem sem entrar nas redes sociais. "Muitos pedagogos defendem a ideia de que o correto é o aluno não levar o aparelho para a escola, há alunos que não conseguem deixar o celular desligado, tanto é o apego e a atenção dispensada para o aparelho."



Celular pode ser apreendido

Desde o ano passado também há uma legislação estadual que proíbe o uso de equipamentos eletrônicos em sala de aula. O sargento Leandro Metzler, da Patrulha Escolar de Francisco Beltrão, relata que a escola também precisa disciplinar o uso dos eletrônicos no regimento interno. Ele informa que normalmente prevalecem o diálogo e o bom senso entre estudantes e escola, mas quando os limites não são respeitados pode ocorrer a apreensão do celular pela escola. Neste caso, a Polícia Militar é acionada, a direção faz uma representação, os pais são chamados, é redigido um Boletim de Ocorrência (BO), feito registro em ata e o aparelho só é liberado para os pais.



Ferramenta para ato infracional

De acordo com Leandro Metzler, há situações em que os celulares acabam se tornando uma ferramenta para a prática de ato infracional. Através das redes sociais, os jovens agendam brigas que acabam ocorrendo na escola ou nos arredores. "Este ano já atendemos três casos e, por incrível que pareça, dois deles foram brigas de meninas."

O sargento da PM lembra ainda que a facilidade para tirar fotos e acessar redes sociais também pode incentivar o crime de cyberbullying, que nada mais é do que a violência virtual através da internet e do celular. Uma rede social que é muito utilizada atualmente é o WhatsApp, que roda preferencialmente em smartphones, e nele é muito fácil de se compartilhar fotos, vídeos e informações que podem denegrir uma pessoa.

São ocorrências que envolvem e-mails ameaçadores, mensagens negativas em sites de relacionamento e torpedos com fotos e textos constrangedores para a vítima. O policial militar Júlio César Walter salienta que difamação, calúnia e imagens vexatórias compartilhadas podem configurar o cyberbullying. Esses xingamentos e provocações de forma permanente podem se tornar caso de polícia e os penalizados serão os pais.



Falta orientação

A professora Roseli de Jesus acredita que há falta de orientação aos adolescentes para o uso das tecnologias. "Com turmas superlotadas fica difícil para o professor, mesmo com as melhores intenções, monitorar a turma de que realmente estão usando esses aparelhos pedagogicamente. Hoje, os celulares, cada vez mais modernos, que permitem o acesso a Facebook e aplicativos, tiram o foco facilmente do que está sendo ensinado", entende.

Roseli diz que o professor luta para manter os alunos interessados nas aulas, para o conteúdo estudado, já que a disposição deles está mais voltada para os encantos tecnológicos. "Sabemos que os jovens até têm consciência da importância de se ter um diploma, mas não têm a consciência do valor do conhecimento. Por outro lado, acredito que as escolas e os educadores precisam pensar com muita seriedade nas inovações tecnológicas, trazendo-as para o seu lado, fazendo com que sejam úteis no preparo das suas aulas e na aplicação das mesmas, possibilitando uma aula mais atrativa e moderna."

A professora ressalta que é necessário inserir uma disciplina específica que contemple formas de se aproveitar melhor as tecnologias. "As redes sociais são boas sim, mas no momento de estudos precisam ser deixadas de lado. E estudar usando as tecnologias também pode se tornar um lazer inclusive usando as redes sociais para este fim."



Desconecta

O Governo do Estado promove a campanha "Desconecta Paraná", que convida as pessoas a desconectarem seus equipamentos eletrônicos por meia hora e refletirem sobre o impacto que eles têm em sua vida. A ação fez parte da Semana Estadual de Prevenção ao Uso de Drogas, que neste ano teve como tema "Internet e outras Dependências". O alerta ficou por conta do uso compulsivo da internet e dispositivos da informação, como computadores, notebooks e celulares.






Reportagem publicada no Jornal de Beltrão

Publicação: 06/07/2015 08:15

http://www.jornaldebeltrao.com.br/noticia/232707/uso-descontrolado-de-celulares-dificulta-o-aprendizado-na-escola




























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