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O COTIDIANO DE VIOLÊNCIA



Os alunos se apresentam como principais autores dessa violência e, ao mesmo tempo, como as principais vítimas, seguidos pelos professores, diretores.


A violência dentro da escola e no seu entorno é um tema que preocupa cada vez mais a sociedade. Os casos que ocorrem no município e região estão longe de serem derivados de tráfico de drogas ou formação de gangues - mais comuns nos grandes centros -, mas são pequenos conflitos que ameaçam a qualidade da educação.


Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) mostra que os alunos se apresentam como principais autores dessa violência e, ao mesmo tempo, como as principais vítimas, seguidos pelos professores, diretores e funcionários. A violência física foi a que mais atingiu todos os grupos de vítimas, seguindo-se a violência contra a propriedade. Por último, a violência verbal, apesar de ela normalmente passar despercebida.

Em Francisco Beltrão, por exemplo, 14% dos professores que responderam ao questionário da Prova Brasil de 2011 disseram ter presenciado no ambiente escolar agressão física de alunos a professores, 33% viram agressão física entre alunos e somente 1% agressão física de professor contra aluno. As perguntas foram aplicadas a 131 docentes de escolas estaduais e municipais, tendo 74 respostas válidas para a pesquisa.

No mesmo levantamento, 66% testemunharam naquele ano agressão verbal de alunos contra professores, 53% agressão verbal entre alunos, 33% agressão verbal a funcionários. Outros 15% testemunharam ofensa verbal entre professores e 23% de professor para aluno. A pesquisa ainda demonstra que 11% dos professores foram ameaçados por alunos. Além disso, 5% dos educadores responderam que alunos frequentaram suas alunas sob efeito de bebidas alcoólicas, 21% sob efeito de drogas ilícitas, 5% portando arma branca (facas, canivetes, tesouras, etc.) e somente 1 professor viu aluno com arma de fogo.



Violência é uma realidade

Um estudo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) indica que a gratuidade da violência para os estudantes é uma realidade e o medo é comum em suas falas. Os professores alegam que a violência nas escolas nasce de futilidades, discussões banais, situações que poderiam ser ignoradas por completo. A cartilha Violência nas Escolas - editada pelo Observatório de Violências nas Escolas-Brasil, Unesco e o Unicef - destaca que em algumas situações, justifica-se o recurso à violência física como uma forma de defesa pessoal do aluno, como atitude de proteção aos amigos mais fracos ou como uma resposta à ação de um sujeito mais forte. Em outras, aparece como uma atitude impensada diante de uma provocação.

De acordo com o Unicef, essas situações repercutem sobre a aprendizagem e a qualidade de ensino tanto para alunos quanto para professores. Entre os alunos entrevistados, quase metade sustenta que a violência no ambiente escolar faz com que não consigam se concentrar nos estudos. Muitos afirmam ficar nervosos, revoltados com as situações que enfrentam. A terceira consequência da violência mais citada pelos alunos é a perda da vontade de ir à escola. Os alunos são os que mais deixam de ir à escola por temer agressões, roubos e humilhações e admitem que esse problema afeta muito a qualidade de seu estudo.

O professor Silvio Augusto Basse, diretor do Colégio Estadual Vicente de Carli, no bairro São Miguel, observa que as brigas dificilmente ocorrem dentro da escola, porque todas as medidas de segurança e de prevenção são tomadas. O problema está fora do ambiente escolar. "Recentemente, tivemos um caso em que algumas estudantes de outra escola vieram bater em uma aluna nossa. O fato aconteceu a duas quadras da escola."



O papel dos pais

Ele chama a atenção para o acompanhamento que os pais devem dar aos filhos. "Os pais têm que saber quantos minutos o filho leva para chegar em casa e, se neste tempo não retornar, tem que buscar saber o que está acontecendo." Silvio lembra que a função da escola é de repassar conhecimento e compete aos pais a educação dos filhos. Conforme disse, é a minoria dos jovens que se envolve em confusões. "Isso, infelizmente, acontece em qualquer escola. Só pedimos que as lideranças da comunidade (padres, pastores, dirigentes de associações de moradores, entre outros) nos ajudem a vigiar. Se todos falam a mesma linguagem, o aluno começa a perceber quando suas atitudes estão erradas."

O presidente do Conselho Tutelar de Francisco Beltrão, José da Silva, salienta que o órgão atua com medidas protetivas e orientação de pais e alunos e, se existir necessidade, encaminha para tratamento psicológico. O Conselho pode intervir até os 12 anos de idade, a partir disto, o atendimento é feito direto pela polícia. Na opinião dele, muitas das brigas acontecem incentivadas pelos próprios colegas. "Em vez de apaziguar, os alunos acabam incentivando ainda mais. Às vezes são pequenas encrencas, quase sempre não são situações graves. Ainda ontem (quinta-feira) separei dois alunos que estavam brigando bem em frente ao colégio de um bairro."



Patrulha Escolar

O sargento Leandro Metzler, da Patrulha Escolar de Francisco Beltrão, diz que a Polícia Militar tem atuado por meio de ações preventivas, visando à proteção de crianças e adolescentes. "Dentro dos estabelecimentos de ensino tivemos apenas dois casos neste ano. Quando ocorrem, atuamos na intermediação do conflito. Se uma das partes quiser representar há o encaminhamento para a delegacia. Lembrando que quem irá responder será o responsável legal pela criança ou adolescente." Em 2015, a polícia registrou um caso de aluno que foi armado para a escola. Um menino de 11 anos levou uma faca escondida.

"A polícia também está amparada legalmente para fazer a revista dos estudantes e das mochilas. Uma dica importante é que os pais também façam isso para saber o que os filhos estão levando para a escola." Entre as ações, a Patrulha Escolar faz o aconselhamento de pais e alunos, mediação e resolução de conflitos, abordagens, operações externas nas escolas e palestras interativas. "Procuramos repassar aos alunos que eles devem respeitar os horários de entrada e saída, os professores e funcionários, porque podem ser enquadrados na lei de desacato e perturbação do trabalho."



Medo de denunciar

O soldado Júlio César Walter, também da Patrulha Escolar, diz que são poucas as denúncias de venda e consumo de drogas que chegam até a polícia. "Acreditamos que muito disso ainda seja receio da população denunciar." Mas frisa que para toda a informação enviada ao narcodenúncia, através do telefone 181, a polícia garante total anonimato ao denunciante. "Neste ano não tivemos nenhuma denúncia sobre tráfico ou consumo de drogas e no ano passado foram apenas três. É provável que existam mais casos, entretanto é preciso que as pessoas denunciem."

Os casos mais comuns que a Ouvidoria do Núcleo Regional de Educação (NRE) registra são de vandalismo, brigas, xingamentos, ameaças, uso de drogas. Normalmente, o órgão recebe denúncias de situações que não são resolvidas na escola com professores, pais e alunos. "Fazemos uma última tentativa e se não tiver solução encaminhamos para a promotoria ou Conselho Tutelar", conta a ouvidora Daniele Minosso. Há a possibilidade do pai assinar um termo de compromisso disciplinar. Ela frisa que as ocorrências envolvendo meninas são em maior número.



Zonas seguras

A cartilha Violência nas Escolas orienta a criação de zonas seguras em torno da vizinhança da escola. O intuito é o de se criar zonas seguras, com o surgimento de mais semáforos, passarelas e faixas de pedestre, que a iluminação esteja em bom estado, que seja controlada a venda de bebidas alcoólicas em locais próximos, proibida a existência de estabelecimentos de jogos de azar e a circulação de drogas ilícitas ser vigorosamente combatida. Fora da sala de aula, diz o documento, é preciso levar adiante projetos que busquem conscientizar os alunos quanto às consequências do uso de armas, de drogas, roubos e assaltos, preconceitos contra homossexuais e atitudes discriminatórias quanto às diferenças étnicas e de gênero.

Matéria publicada no Jornal de Beltrão - Publicação: 27/04/2015 14:53

Fonte: http://www.jornaldebeltrao.com.br/noticia/224258/o-cotidiano-de-violencia






























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